Em verdade, a ligação do amor à obediência foi escrita pelo próprio dedo do ETERNO ao talhar em duas tábuas as Asseret HaDibrot (“Dez Palavras”, “Dez Mandamentos”).
“… mas demonstro graça até a milésima geração de quem me ama e obedece às minhas mitsvot [mandamentos].” (Devarim/Deuteronômio 5:10, parte final).
Infere-se daí que o desejo do ETERNO sempre foi o mesmo: que o homem o amasse por meio da obediência aos mandamentos da Torá. Tais mandamentos foram ditados para o bem do próprio ser humano, como ensinou o rabino Sha’ul (Paulo):
“Portanto, a Torá é santa; isto é, o mandamento é santo, justo e bom.” (Ruhomayah/Romanos 7: 12).
Então, chega-se à conclusão de que a vontade do ETERNO reside no cumprimento da Torá pelo homem, que traduz um ato de amor em obediência.
Por outro lado, se o homem viola a Torá, estará em pecado, porque “o pecado é a transgressão da Torá” (Yochanan Álef/1 João 3:4, em aramaico).
Eis o que Yeshua falou sobre aqueles que não praticam a Torá:
“Naquele dia, muitos me dirão: ‘Senhor, Senhor!’ Não profetizamos em seu nome? Em seu nome não expulsamos demônios? Não realizamos muitos milagres em seu nome? Então eu lhes direi na cara: ‘Nunca os conheci! Afastem-se de mim, praticantes do que é contra a lei! [Torá]’” (Matityahu/Mateus 7:22-23, Bíblia Judaica Completa, editora Vida).
Analisemos o texto acima. No dia do grande julgamento, existirão pessoas que realizaram milagres em nome do Mashiach (Messias), invocaram “o nome de Jesus” para realizar sinais, prodígios e maravilhas, mas não quiseram saber de guardar a Torá. Para aqueles que viveram contra a Torá, ainda que tenham operado milagres em nome de “Yeshua/Jesus”, o Mashiach dirá:
והָידֵּין אַודֵּא להוּן דּמֵן מתוּם לָא יִדַעתכוּן אַרחֵקו לכוּן מֵני פָלחַי עַולָא
VERSÃO PESCHITA ARAMAICA:
“Nunca os conheci! Afastem-se de mim, vocês que transgridem a Torá” (Mt 7:23, tradução direta do aramaico – versão Peshitta).
Citemos outro texto em que nosso Adon (Senhor) Yeshua leciona acerca dos que ficarão de fora do Reino do Céu:
“O Filho do Homem enviará seus anjos, e eles tirarão do seu Reino tudo o que faz pecar e todas as pessoas distanciadas da Torá. Eles as lançarão na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes. Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça!” (Matityahu/Mateus 13: 41-43).
À luz da assertiva de Yeshua, serão lançados na fornalha ardente os que pecam e estão distanciados da Torá (transgressores da Torá). Em contrapartida, brilharão no Reino do ETERNO os justos. O que é ser justo? A Escritura afirma que a obediência aos mandamentos do ETERNO, que estão na Torá, significa justiça, ser justo (Devarim/Deuteronômio 6:25).
Outra vez se percebe, com toda a clareza, que Yeshua estabeleceu uma distinção entre dois tipos de pessoas:
1) o injusto, que é aquele que desobedece à Torá do ETERNO, cujo destino é o local onde haverá choro e ranger de dentes;
2) o justo, que obedece aos mandamentos de YHWH escritos na Torá, cujo destino será o Reino de Elohim.
Alguém poderá dizer: “não existe nenhuma pessoa que cumpra todos os mandamentos, então, todos estarão condenados”. Errado!
A graça de Elohim está disponível para liberar perdão àqueles que querem cumprir os mandamentos da Torá, mas falham circunstancialmente.
Há uma grande diferença entre o justo, que deseja agradar o ETERNO, obedecendo-lhe, ainda que erre, e o ímpio, que deliberadamente transgride a Torá, sem que haja o verdadeiro arrependimento. Receberá a graça apenas o primeiro.
Muitos acham que basta crer em Yeshua e estarão automaticamente salvos. Este raciocínio está errado por duas razões basilares.
Primeiramente, vimos que o Mashiach ressaltou a obediência como sinal ou prova da fé.
Em segundo lugar, Yeshua era judeu e falava hebraico e aramaico, razão pela qual nunca falou as palavras “fé” ou “crer”, tal como nós as conhecemos na Língua Portuguesa. Yeshua usou a palavra hebraica “emuná”, que significa crer e ser fiel, obediente (crer + obedecer). Em Português, a palavra “fé” indica apenas um aspecto abstrato, subjetivo, psicológico e íntimo (“eu creio”, “eu tenho fé”). Na cultura judaica, “emuná” indica fé e obediência, isto é, uma ação concreta, externalizada no mundo material.
Por tal razão, Ya’akov (Tiago), irmão de Yeshua, proclamou em sua Escritura:
1) “… a fé por si mesma, se não for acompanhada de obras, está morta”;
2) “Vejam que uma pessoa é declarada justa por causa de suas ações, e não apenas por causa da fé.” (Ya’akov/Tiago 2: 17 e 24).
Com efeito, de acordo com a Torá e com Ya’akov (Tiago), não basta sentir a fé de forma psicológica (apenas no coração), porquanto a verdadeira fé será acompanhada de ações concretas.
No livro que escreveu acerca dos judeus, o filósofo Soren Kierkegaard captou a essência do Judaísmo ao prescrever uma real mudança de comportamento:
“Uma crença que não despertar obrigações e modificações é uma crença falsa.” (A Jew, Who Is He, What Is He?)
Kefá (Pedro) ensinou que o ETERNO julgaria as pessoas segundo suas obras:
“Além disso, se vocês chamam Pai àquele que julga imparcialmente segundo as ações de cada pessoa, vivam sua estada temporária na terra com temor.” (Kefá Álef/1 Pedro 1:17).
O ETERNO falou que abençoaria Avraham (Abraão) por conta de suas boas obras em obediência:
“Tudo isto porque Avraham atentou para o que eu disse e realizou o que lhe ordenei fazer – ele seguiu minhas mitsvot [mandamentos], meus regulamentos e meus ensinos.” (Bereshit/Gênesis 26:5).
Agora, sempre que o leitor encontrar em português a palavra “fé” ou o verbo “crer” em todas as suas conjugações, deverá ter em mente que à luz do Judaísmo de Yeshua, pautado nas Escrituras, estes vocábulos indicam duas ideias simultâneas: crer e obedecer.
Citam-se dois textos sobre este tema em que foi colocada em colchetes a verdadeira ideia que Yeshua quis transmitir:
“Porque Elohim amou tanto o mundo que deu seu Filho único, para que todo aquele que nele confia [e obedece] possa ter a vida eterna, em vez de ser completamente destruído. Porque Elohim não enviou seu Filho ao mundo para julgar o mundo; mas para que por meio dele o mundo possa ser salvo. Os que confiam [e obedecem] nele não são julgados; quem não confia [e não obedece] já foi julgado, por não ter confiado [e obedecido] naquele que é o Filho único de Elohim.” (Yochanan/João 3:16-18).
“Quem crê [e obedece] no Filho possui a vida eterna. Mas quem desobedece ao Filho não verá a vida, e permanece sujeito à ira de Elohim.” (Yochanan/João 3:36).
Conclusão: a salvação do homem depende da fé em Yeshua como SENHOR e SALVADOR, em razão de seu sacrifício expiatório, materializando-se a fé por meio da obediência sincera e verdadeira às mitsvot (mandamentos) da Torá de YHWH, sinal do verdadeiro “nascer de novo” (Yochanan/João 3:3).
Nestas circunstâncias, a pessoa é considerada justa aos olhos do ETERNO e desfrutará da graça e da misericórdia salvíficas.
BIBLIOLOGIA:PESCHITA ARAMAICA,TALMUD,LIVRO JUDAISMO NAZARENO (CITAÇÕES DESTE LIVRO )