Existe um fato desconhecido por muitos: o ETERNO fez com Moshé (Moises) 2 (duas) Alianças, e não uma.
Indo direto ao ponto: YHWH firmou com Moshé uma Aliança no monte Sinai, chamado de Horev (Horebe), que é a Primeira Aliança, e outra Aliança no monte Mo’av (Moabe), que é a Nova Aliança (ou Aliança Renovada):
“Estas são as palavras da aliança que YHWH ordenou a Moshé [Moisés] estabelecer para o povo de Yisra’el na terra de Mo’av [Moabe], além da aliança feita com eles em Horev.” (Dt 28:69; versões cristãs: Dt 29:1).
O verso indica que fixou YHWH com Moshé uma aliança em Horev (Sinai) e outra em Mo’av (Moabe).
Este é o entendimento de Rashi, considerado um dos maiores exegetas do Judaísmo, e do rabino nazareno James Trimm:
“… além da aliança [ou seja], as maldições [que aparecem] em Levítico (26: 14-39), que foram proclamadas no [Monte] Sinai”. (Rashi sobre Dt 28:69).
“Muitos de nós têm perdido uma importante verdade. A Nova Aliança está ao longo de toda a Torá! E esta surpreendente verdade é uma chave importante para compreender os escritos de Paulo. Há de fato duas alianças na Torá e duas alianças mosaicas.” (James Trimm. Nazarene Theology, 2007, página 216).
Devem-se distinguir as duas Alianças pactuadas entre YHWH e Moshé:
a) a Primeira Aliança, firmada no monte Horev (Sinai), cujos termos essenciais estão descritos em Shemot/Êxodo 19 a 24;
b) a Segunda Aliança (Nova Aliança/Aliança Renovada), instituída no monte Mo’av (Moabe), cujas cláusulas se situam em Devarim/Deuteronômio 28:69 a 30:20 (versões cristãs: Dt 29 a 30) e em Yirmeyahu/Jeremias 31:30-33 (versões cristãs: Jr 31:31-34).
A Segunda Aliança (Nova Aliança) foi centrada em torno do arrependimento de Yisra’el (Dt 30:2,8), e suas cláusulas incluem:
1) a Nova Aliança (Aliança Renovada) é feita com a Casa de Yisra’el e com a Casa de Yehudá (Judá), ou seja, com o total das 12 tribos de Yisra’el (Jr 31:30; versões cristãs: Jr 31:31).
OBS: esta promessa ainda não foi cumprida, porque Yisra’el como um todo ainda não se arrependeu e reconheceu Yeshua como Mashiach;
2) a promessa de um reagrupamento de Yisra’el de entre as nações (Dt 30:3-4).
OBS: promessa parcialmente cumprida, visto que a maioria dos israelitas estão dispersos entre as nações;
3) uma promessa de viver na terra prometida a Yisra’el (Dt 30:5).
OBS: atualmente, o Estado de Israel não ocupa a totalidade da terra que YHWH prometeu aos patriarcas, logo, esta promessa também não foi cumprida.
4) um coração circuncidado (Dt 30:2,6). OBS: tal cláusula não se consumou, porquanto Yisra’el ainda não reconheceu Yeshua HaMashiach;
5) a Torá será escrita no coração do povo de Yisra’el (Jr 31:32, versões cristãs: Jr 31:33).
OBS: coletivamente, Yisra’el não se arrependeu e não guarda a Torá em espírito e em verdade;
6) Yisra’el seria o seu povo e Ele seria o seu Elohim (Dt 29:12; versões cristãs: Dt 29:13; Jr 31:32, versões cristãs: Jr 31:33). OBS: o pecado de Yisra’el e a ausência do arrependimento coletivo indicam que ainda se cumprirá esta profecia.
7) todos os mandamentos da Torá seriam obedecidos pelo povo (Dt 30:8), razão pela qual o pecado e a morte iriam desaparecer.
OBS: tal cláusula ainda não se cumpriu.
8) promessa de vida (Dt 30:6,15,19). Já que atualmente todos nós já vivemos, a promessa de “vida” se refere à vida eterna, até em função do desaparecimento do pecado que há de ocorrer.
OBS: somente quem concede a vida eterna é Yeshua HaMashiach. Já que Yisra’el como um todo não o aceita, ainda não se consumou a profecia de que “todo o Yisra’el será salvo” (Rm 11: 26).
Yeshua derramou seu sangue para ratificar esta Segunda Aliança feita com Moisés, que é a Nova Aliança/Aliança Renovada (Mt 26:28). Porém, como vimos nos oito tópicos acima, as profecias ainda não foram cumpridas, razão pela qual a Nova Aliança somente concretizará todos os seus efeitos no futuro.
Por tal razão, se a Nova Aliança (Aliança Renovada) ainda não se consumou, conclui-se que estamos vivendo na Primeira Aliança, apesar de Yeshua ter iniciado o processo da Nova Aliança que culminará com o seu retorno para reinar sobre toda a terra.
Com a segunda vinda do Mashiach e a implantação do milênio de shalom (paz), a situação do homem na terra será infinitamente melhor do que a situação atual.
Firmado nestes conceitos apresentados, torna-se fácil compreender Ivrim/Hebreus 8:13:
“Dizendo Nova Aliança, envelheceu a primeira. Ora, o que foi tornado velho, e se envelhece, perto está de acabar”. Não é a Torá que acabou, mas sim a Primeira Aliança que chegará ao fim quando Yeshua concretizar todas as profecias da Nova Aliança, e retornar para reinar na terra.
Vale lembrar que a Nova Aliança está descrita na Torá, inexistindo, pois, oposição entre ambas. Em outras palavras, é equivocado o pensamento cristão de que a Nova Aliança se opõe à Torá.
Verdadeiramente, a Nova Aliança foi prevista pela Torá para que o homem possa cumprir todos os mandamentos da própria Torá (Dt 30:8) e, então, desaparecerá de vez o pecado da face da terra (recorde-se: pecado = violação da Torá).
Com efeito, o Judaísmo rabínico ensina que, no reino do Messias, a Torá estará escrita no circundado coração do homem, e este não terá mais o desejo de fazer o mal, somente conseguirá praticar o bem.
Ramban (Rabi Moshe ben Nachman), que viveu entre 1194 a1270 D.C, ao escrever monumental obra sobre a Torá, estabelece uma ligação entre a “Nova Aliança” prevista na Torá e os “dias do Messias” (interpolações entre colchetes):
“E YHWH teu Elohim circuncidará o teu coração (Dt 30:6).
É isso que os Rabinos dizem: ‘Se alguém vem a purificar-se, eles o ajudarão’ [do] alto. O verso garante que você vai voltar a Ele de todo o coração e Ele vai te ajudar.
Este assunto seguinte é muito aparente das Escrituras: desde o tempo da Criação, o homem teve o poder de fazer o que quisesse, para ser justo ou perverso. Este [concessão de livre arbítrio] se aplica igualmente ao período de Torá, para que as pessoas possam receber o mérito pela escolha do bem e punição por preferir o mal.
Mas, nos dias do Messias, a escolha do bem será natural, o coração não desejará o impróprio e não terá qualquer desejo por isto. Esta é a ‘circuncisão’ mencionada aqui, para a luxúria e o desejo que são o ‘prepúcio’ do coração, e a circuncisão do coração significa não cobiçar ou desejar o mal”.
Para Ramban, a Nova Aliança se consumará nos dias do Messias, que restaurará o homem ao estado antes da queda:
“Naquele momento, o homem voltará ao que era antes do pecado de Adão, quando por sua natureza ele fazia o que era correto, e não havia desejos conflitantes em sua vontade, como já expliquei no Sefer Bereshit [Livro de Gênesis]”.
E prossegue Ramban ao dissertar sobre a Nova Aliança descrita pelo profeta Yirmeyahu/Jeremias:
“Esta é uma referência à anulação do instinto do mal e ao natural desempenho do coração para sua própria função. Portanto, Yirmeyahu [Jeremias] disse ainda: e eu serei o seu Elohim, e eles serão o meu povo, e eles não devem ensinar mais cada um a seu próximo, e cada um a seu irmão, dizendo: ‘Conheça YHWH’, porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior.
Agora, sabe-se que a inclinação do coração do homem é má desde a sua juventude e é necessário instruí-lo, mas, nesse momento, não será necessário instruí-lo [para evitar o mal], porque seu instinto para o mal será completamente abolido. E é por isso que Yechezk’el [Ezequiel] declara: ‘um coração novo eu também vou
lhe dar, e um novo espírito porei dentro de vocês, e farei que andem nos meus estatutos’
(Yechezk’el/Ezequiel 36:26)”.
“O novo coração alude à natureza do homem, e o [novo] espírito ao desejo e à vontade. É isso que nossos rabinos disseram: ‘E se aproximam os anos quando você irá dizer: não tenho prazer neles; estes são os dias do Messias, pois não haverá lugar nem para o mérito nem para a culpa’, pois nos dias do Messias não haverá [mal] desejo no homem, mas ele vai naturalmente executar as ações adequadas e, portanto, não haverá mérito nem culpa neles, pois mérito e culpa são dependentes de desejo”.
Já que o homem não mais pecará quando chegar o reinado do Mashiach na terra, Ramban considera a Nova Aliança melhor do que a Primeira, e é neste contexto que dever ser lido e interpretado o texto de Ivrim/Hebreus 8:7-13.